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24/11/2005

O diário de amor de Katherine.

    Em uma tarde fria, Jhenny resolve ler enquanto toma seu chocolate quente. Ela corre seus dedos sobre os livros da imensa estante da sala de estar até se deparar com um livro grosso e velho, cheio de poeira, bem no meio da estante. O título era meio brega e quase grande demais: O diário de amor de Katherine. "Eu não comprei esse livro", pensou ela. Mas sentou e começou a ler.

"24, novembro de 2005.

Olá, meu nome é Katherine e vou contar um pouquinho da minha história de amor. Já vou logo adiantando que não sou nenhuma escritora ou poeta, sou apenas uma jovem senhora, canhota, sentada num sofá, em frente a uma estante enorme de livros, escrevendo uma simples e inesquecível história de amor.
Tudo começou quando eu tinha 16 anos. Na verdade, a minha amizade com o Nick começou quando a gente era bem pequeno. Ele era meu melhor amigo pra sempre. Sim, amigos. Ele tinha os olhos cor de mel, o cabelo mais liso e macio da vida, era magrinho e sempre foi bem maior que eu. Ele era a pessoa mais fofa do mundo, engraçado, tinha a risada mais gostosa de todas e o sorriso mais lindo. Eu confiava muito nele. Ele era quase meu irmão, vivíamos um na casa do outro. Quase todo ano a gente caía na mesma sala e nenhum professor aguentava."

    Jhenny mergulhou na história, lia o livro como um gibi, tão gostoso e fácil.

"Depois das férias de julho de 1980, eu cheguei na escola de namorado novo. Ele tinha 17 e era bem parecido com o Nick, tirando o fato de que o Daniel era loiro e tinha olhos azuis. Mas o tipo físico, altura e personalidade eram quase iguais, a não ser pelo ciúmes mortal do Daniel. Nick ficou tranquilo quando soube do namoro porque sabia que nossa amizade não ia acabar, mas Daniel não gosta nadinha da minha amizade com ele."


    Jhenny tinha que ir trabalhar, afinal, era uma mulher de vinte e um anos, que tinha que pagar a faculdade, a comida, e sustentar a si mesma e a avó... colocou o casaco e saiu. Não resistiu, o livro foi na bolsa.

"O tempo foi passando e aquele ciúmes idiota do Daniel me irritou. Depois de um ano ele ainda não confiava em mim, e o Nick era o motivo de quase todas as brigas. Até que ele terminou comigo. Claro que eu fiquei arrasada, mas o Nick estava lá comigo, e isso fez a dor ser bem menor. Assim que o Daniel saiu eu liguei pro Nick, e em 10 minutos ele chegou lá em casa. Ele me abraçou tão forte que eu estava quase sem ar. Parecia estar esmagando meu coração. Não disse nada além de sussurrar bem baixinho pra mim: você vai ficar bem. Eu estou aqui com você."

    Jhenny estava adorando tudo isso. Ela se apaixonou e esperava um final feliz pra Nick e Katherine.

"- Como ele pôde? - diz Nick se soltando do abraço.
- O quê? - perguntei um pouco confusa.
- Ninguém pode te fazer sofrer assim! Quem ele pensa que é? Agora você é uma garota ruiva, linda, que vai ficar se machucando até alguém vir e concertar seu coraçãozinho partido.
- Nick..
- Eu não suporto ver você assim - ele interrompeu. Que porcaria! 
- Nick!
- O quê?
- Eu vou ficar bem.
- Desculpa, eu.. eu..
Nick saiu do quarto quase chorando. Quando eu o chamei ele parou e se virou, e seus olhos cheios de lágrimas consumiram todas as palavras em mim. Sabe o que eu fiz? Eu simplesmente sai correndo, me joguei em seus braços e o beijei. Eu nunca me senti tão bem."

    Jhenny comemorou com um sorriso enorme. Fechou o livro, pegou suas coisas e saiu no caminho de volta pra casa. Mais tarde tomou seu banho e preparou uma sopa.

"Depois que a gente casou, tivemos muitos problemas financeiros. Eu não conseguia engravidar e o Nick já estava ficando velho. E quando eu menos esperava, engravidei. Foi uma gravidez complicada, afinal eu já estava um pouco velha pra ser mãe. Quase a perdi. Quase. Ela nasceu tão linda, não sei se era ruiva ou se era loira, provavelmente ficaria ruiva já que eu era ruivinha desde criança. Ela cresceu linda e saudável.
Quando ela tinha 5 anos, Nick faleceu. Eu fiquei tão mal que a deixei na casa da mamãe e nunca mais a vi. Agora eu estou fraca e doente, e ela deve estar tão grande e linda."

    Jhenny começou a desconfiar de alguma coisa. Tanta coincidência e só agora ela foi perceber. Algumas linhas em branco. Ela vira a folha.

"Querida Jhenny, se você está lendo esse diário, tente me entender e me perdoar. Eu te amo pra sempre. Eu estou velha e já não posso mais cuidar de você, mas sei que você está bem. Não teria a ousadia de aparecer por aí depois de tudo que fiz, mas eu confio na mamãe, você está em ótimas mãos. Não consigo mais escrever como antes, por isso as próximas páginas são suas. Escreva a sua história. E me perdoe por não conseguir contar muito sobre a minha. Estou doente e minhas mãos estão trêmulas e fracas.
Ei, me conte tudo. Quero saber dos detalhes, estarei sempre aqui, te ouvindo através das páginas.

Com amor, Katherine."

    A essa altura Jhenny já estava enxarcada de lágrimas. Ela achou que nunca perdoaria sua mãe, afinal não sabia muito sobre ela, mas era uma garota solitária que teve que aprender a se virar. Sua avó foi uma ótima "mãe", mas ela já estava ficando velha e tinha muitas coisas que Jhenny tinha de fazer sozinha. Mas depois dessa história ela nunca se perdoaria. Claro que, assim que terminou de ler, chorou de raiva e fez mil e uma perguntas à sua avó, mas ela pôde entender que o amor a gente não escolhe e que por mais que sua mãe a amasse muito, Kath não queria que sua filha crescesse em um lar triste por causa de uma mãe doente e depressiva, e também não queria que Jhenny crescesse sem um pai. Há alguns anos seu avô também havia falecido, mas Kath se sentia melhor por sua filha ter crescido feliz e saudável ao lado da avó e por ela ter uma figura paterna por pelo menos algum tempo. Kath sabia que um dia Jhenny ia entender isso tudo.
    Jhenny passou a acreditar no amor e um dia até se esbarrou com ele por aí. E escreveu sua história, sua própria história de amor.